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  • Foto do escritorJonas Silva

Pico do Meio, Hikking Norte-Sul

Atualizado: 6 de mar. de 2021

Em uma quinta feira aparece em minha tela um relato sobre o Pico do Meio em Ortigueira, meio irmão da Serra Grande que já fazia parte dos meus planos. O pico é parente do imponente Pico Agudo de Sapopema.

Debruçado sobre o Wikloc, Google Earth, Maps ME e mais alguma carta, traço um plano de atravessar o maciço a partir do Norte. A distância não é muito grande mas a vegetação (samambaias, arranha gato e "taquara") ditariam o ritmo uma vez que a face Sul havia - segundo o relato - sido adentrada uma única vez, e na norte não havia relato - poucas investidas haviam ocorrido pelo oeste, ainda assim sem trilha demarcada.

Convidei alguns amigos que toparam de pronto. Claro, não contei dos detalhes, hahaha. Só falei que poderíamos encontrar a samambaia no caminho. Quinze dias depois, às 04:00, lá fomos nós. Todo mundo animado. Porém foi só sair da rodovia que baixou um "russo" danado, lembrando a Serra do Mar.

Estrada vicinal tomada pela neblina

Dirigimos por 40 km em meio à névoa branca. Só dava para enxergar o carro da frente, talvez por isso "demos alguns perdidos". Depois de estradinhas e porteiras rurais, subidas de cascalho massacrando os pneus, chegamos; às 10:30. O pessoal já meio desconfiado. Naquela neblina não dava para ver nada, e eu insistindo que havia uma montanha ali.

Se apossamos de pequenas mochilas de ataque e partimos por um caminho de vacas. Isso me custou boas gargalhadas nos próximos dias: falei que seguiríamos o trilho dos animais até a linha da mata, só que quando começou a aventura de verdade, nem vestígios de boi na mata:

- ei, "o boi passou aqui? Não?! Acho que não tem boi nesse mato! kkkkk.

Subindo a encosta íngreme

Assim que deixamos a pastagem o caminho se tornou hard. escolhemos um vau por onde a enxurrada corre durante as chuvas. Com muitas pedras de todos os tamanhos, soltas, rolando morro abaixo. Era o melhor trajeto, a vegetação entrelaçada tornava o caminho por outro lugar (sem cortar a vegetação) intransponível. Foram 2 h, muitos tombos - teve quem caiu na braquiária (pasto) já - para caminhar cerca de 900 m com elevação de 500 m.

Quando acabam as pedras começa algo pior; a samambaia. Os galhos crescem mais que um humano. Os mais velhos acamam e os novos afloram formando uma cortina de 1,7 m de mato denso e pontiagudo.

Pela primeira vez os raios do Sol puderam ser vistos. E alguns metros depois, pudemos avistar o colchão nuvens abaixo de nós preenchendo as Corredeiras do Inferno e mostrando apenas o platô da Serra Grande à esquerda e o do Pico Agudo à direita. Pronto, fiquei aliviado! Aquela vista já me eximiria de ter colocado as pessoas no perrengue.

A partir de então a caminhada é extenuante, só recompensada pelas clareiras que se abrem à esquerda dando sinais que logo veríamos a Corredeira no seu esplendor. Transpor os 400 m até o cume com 100 de altimetria levou mais 50 min. Em um momento até encontramos uma fita, provavelmente alguém caminhou ali, no platô, mas a samambaia apagara qualquer rastro civilizatório. Eram 12:20 quando encontramos o livro de cume - nesse pedaço já tem uma trilha "meio" formada que sobe da face oeste. Lá embaixo o Rio Tibagi ronca como uma fera se debatendo no árduo caminho que o destino reservou-lhe: montanhas tão imponentes. As nuvens haviam se dissipado como que nos premiassem pelo empenho.

Visual das Corredeiras do Inferno com o Pico Agudo a direita e a Serra Grande à esquerda

Uma longa pausa para recarregar. Alguns com comida, outros, sono, foto, etc. Saímos para a descida, crentes que seria mais fácil (hahaha). O relato que li falava de uma ascensão pelo lado Sul. Os primeiros 100 m conseguimos, com dificuldades, seguir um rastro humano que a vegetação estava por consumir. A partir de então, procurar a trilha se tornou impraticável, desaparecera. Seguimos no mesmo ritmo da subida; a passos de tartaruga. Logo a mata tomou conta, apareceram as "taquaras". Numa tentativa de facilitar a descida saímos do vau da enxurrada. O emaranhado de cipós, a cama de folhas e a inclinação de pelo menos 60 º tornou os tombos mais comuns que na subida. Mas a beleza da mata quase virgem entranhando na rocha e sua diversidade não deixavam que desanimássemos (e nem tinha essa opção, desistir ali significava esperar uma onça faminta).

Grupo saindo do Pico do Meio com Rio Tibagi ao fundo

Foram 350 m de elevação em pouco mais de 600 m percorridos em zigue-zague até sairmos novamente no caminho das vacas. Como a vida na braquiária é boa! hshshs. Descemos mais 150 m até a estradinha para contornar o Pico e retornar aos veículos. Logo no início dessa, adivinhem: o boi! Só que estava bloqueando a estrada e não abrindo passagem, kkkkkk. Por "respeito" fizemos um desvio e deixamos o animal lá, tranquilo, ruminando o capim, como se sussurrasse alguma gozação do nosso estado.

Voltamos para os carros que estavam sendo vigiados por umas 300 vacas curiosas, mais que isso, tentaram uma limpeza a seco, lambendo as latarias sem sucesso. Dali seguimos para a base da Serra Grande onde passamos a noite sob uma lua de dar inveja, e acordamos com a aurora imponente sobre essa montanhas e o estridente Tibagi.

Acampamento no platô da Serra Grande

O domingo ainda seria movimentado, com muita paisagem bonita, estradas encantadoras e um salto majestoso para encerrar a Expedição Serra Grande.


Agradecimento

A essa galera da foto por tornar essa aventura possível e mais divertida.

Gilmar, Marcos, Kleber, Andrey, Karina, Jonas e Bruna (a esquerda para a direita), com o Pico do Meio ao fundo

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